sábado, 11 de fevereiro de 2012

O corpo


“ O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas, presença de ausência, daí a saudade que é quando o corpo não está onde está,...O poeta escreve para invocar essa coisa ausente.Toda poesia é um ato de feitiçaria cujo objetivo é tornar presente e real aquilo que está ausente e não tem realidade.”
                                                    Rubem Alves. Cenas da Vida ( Escrevo o que não sou)
       O cara se garante, ele falou que se perguntassem para ele se ele é o que escreve ou se se parece, ele diria que não, que o que ele escreve é bem melhor que ele...
      Talvez seja isso mesmo, talvez todos escrevam o que gostaria lá no fundo que fosse real, ou então escrevemos para dar algo de bonito para as pessoas lerem, ou algo que afetem elas de alguma maneira, ou então realmente colocamos o que queremos viver nesse papel...
        Quando não conseguimos falar e nem viver, o escrever é um ato de expressar isso de maneira mais próxima...
        Por isso quando a dor nos sufoca alguns não conseguem sair de casa e ter que mentir com um sorriso, o corpo é a escrita mais complexa, uns se tornam mestres em imitar os ouros, em esconder, e não vivem a grandiosidade de criar sua própria linguagem com seu corpo, de desenvolver uma historia real...
       O rosto com suas linhas do tempo, nos mostram muitas coisas, cada parte do corpo fala, um olhar perdido no tempo, a mão no bolso de quem espera, os pés inquieto de quem não está gostando da conversa cansativa e supérflua.
      A saudade deixa seu rastro também, porém nem todos conseguem compor essa escrita de uma forma clara, assim com o amor não é tão bem expressado por alguns, eles se perdem na fala e esquecem dos seus corpos, se prendem ao texto e esquecem a forma como expressa-lo.
      Suy Melo

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ritual Sagrado


      Volta e meia o passado volta para nos assombrar ou simplesmente para nos fazer lembrar do que aconteceu. Ontem olhei pra você e lembrei dela e do meu padrasto.
       Não te desejo mal, menina, mas as vezes sinto que me sentiria bem se soubesse que o que ele e você fizeram a minha mãe, lhes voltassem com a mesma medida, no seu caso, que ele fizesse a mesma coisa que nos fez.
       Estranho ir a uma festa onde se comemora o inicio, as promessas, as bênçãos...todo o ritual sagrado, "o até que a morte nos separe",e chegar em casa, ir dormi bem, desejando aos novos andarilhos uma longa  caminhada juntos e a mais sincera felicidade.
         Então no meio do sono, lembrar de você é lembrar do fim, é querer desacreditar que tudo isso pode ser verdade, é me tornar cética e não querer dançar a música mais agitada da festa, é parar pra refletir, quando eu sei que deveria somente me permitir sentir...Quando deveria deixar você ir e ser feliz com o seu outro caminho e torcer para que todas as cicatrizes se fechem e que o medo não faça mais parte das nossas vidas...
        Aos que não gostam do ritual sagrado e nem o querem, não deixe de viver por conta do profano ou da cicatriz ainda aberta...
        Não é por que não deu certo uma vez, que não dará certo novamente. Aos meus amigos que não querem se casar - comprometendo-se a uma vida difícil junto com alguém que te desperte "As Três Chamas:" da amizade, do amor e da paixão...não deixemos isso passar por conta de um passado não tão belo. Espero que possamos perdoar e continuar a acreditar que o amor vence todas as barreiras, inclusive a marca de uma traição.
Suy Melo

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O amor e a pitomba.

      
        Existe várias formas de amar, uma delas é o amor de pitomba.


      Aveludado, camada fina e suculenta, com uma forma não definida, superfície que protege um caroço duro, esse aveludado toma a forma do caroço, se juntam tornando-se um só.
      Com um gosto particular que só eles dois tem, o caroço sem a camada não é a pitomba pra se comer, um doce com um pouco de azedo, um prazer que só sabe quem gosta de pitomba, depois da primeira só se para quando a boca não agüenta mais, só que não se abusa, tem a briga da boca que pede uma pausa, mas o resto do corpo continua pedindo...
     Depois que se quebra a casca ali se descobre outro mundo, depois que se permite viver e entrar na vida da outra pessoa acaba fazendo parte de tudo, do seu lado doce e agradável aos seus tormentos mais ácidos e grosseiros, ali se vive um amor ‘pitombeira’, uma planta que chega a atingir 12 metros de altura e serve para recuperar áreas degradadas, pois serve de alimento para vários pássaros.
    Tudo se aproveita, tudo se renova, mesmo que os frutos só venham por alguns meses no ano, mas a arvore permanece solida e pronta pra dar frutos novamente, dando sombra para os que se aproximam...As marcas que ficam na arvore são sinais de que viveu muito, de que amadureceu e de que seu fruto vai ser mais suculento e forte a cada estação, pronto pra adocicar outras vidas...Se assim for cuidada..
Suy Melo.