segunda-feira, 18 de abril de 2016

Série: viagens em cima da bike


          Desde o dia 24/03/16 que saímos de fortaleza, tudo tem sido uma experiência tremendamente louca e intensa , são tantas pessoas nos ajudando, contribuindo como podem, desde encher nossas garrafinhas de água, oferecendo sua casa, nos alimentando e tirando muitas vezes de onde não tem.
           São muito sinais de bondade sem ter o interesse de ter algo em troca, já que não levamos muito e as vezes o que temos para da em troca é uma boa conversa, historias sobre a nossa viagem e responder as perguntas que sempre nos fazem.
           No primeiro domingo da viagem fomos visitar uma igreja, por conta de um casal que nos ajudou no caminho e mencionaram que eram cristãos e que iriam para o culto a noite, então acabamos indo, era uma assembleia de Deus bem pequena, humilde, me lembrei muito da minha infância e da minha mãe, incrível como alguns lugares conseguem te transportar para outro tempo, outro lugar.
             Chegamos atrasadas, eu e Jessica, mas ainda deu para pegar o coral das senhoras e das crianças, impressionante como eles mantêm a mesma forma de culto e com os mesmo chavões, me percebi emocionada por algumas musicas que foram cantadas, não pela letra, mas por lembranças, acabei confrontando muito o deus do exercito, o deus que devasta o seu inimigo, um deus que fala através de um pastor para dizer que tal pessoa não ira para o céu com toda a convicção de quem ouviu do próprio deus, esse era o deus pregado nessa noite, contradições  quando eles mesmo usam outra frase feita, dizendo que no céu iremos ter muitas surpresas.
            Para além da teologia de salvação, céu e inferno, aceitação de Cristo para ir ao céu, quero falar sobre como a estrada tem sido acolhedora, de como passamos por famílias que tem me tocado e falado ao meu coração, de como é lindo ver pessoas testificando Cristo sem precisar mudar o tom da voz, sem precisar criar um personagem, elas simplesmente vivem, e ver Cristo nelas é ver o amor que elas tem pela vida, pelo cuidado com o outro, pelo senso de responsabilidade com o meio que vive e de como tentam fazer algo para mudar a sociedade, não esperam reconhecimento, não esperam fazer isso para não ir para o inferno, fazem por que sentem que é o certo, algumas sim frequentavam igrejas, outros tinham outras religiões, mas o que tinham em comum era essa alma viva, receptiva que acolhe,  quando nossas instituições religiosas que deveriam ser assim, elas simplesmente afastam pessoas, mostram uma face de Cristo que causa o descredito, onde o amor deveria reinar, se vive em clima de guerra...
            Viajar tem sido conexão , tivemos algumas pedaladas que duraram mais de 9 horas, muito tempo para pensar, contemplar, sentir, chorar e rir, misturas loucas, falar sozinha, se desligar. São tanta bombas de informações constante, debates, verdades, escolher um lado, ter razão, estamos sempre colocando ideologias acima de pessoas, o próximo acaba virando só um contra ou um a favor, espero que consigamos chegar a um nível de relacionamento em que minha espiritualidade, sexualidade e classe social não seja maior de quem eu sou e que isso não impeça que você chegue a se relacionar comigo e com os outros.